Reabilitação da Antiga Destilaria Extrameña / GAP Arquitectos

Terras Cultivadas

O projeto de reabilitação da antiga Destilaria como museu de vino em Almendralejo, dos arquitetos Daniel Jiménez, Beatriz Martínes e Jaime Oliveira é fruto de um olhar contemporâneo, crítico, capaz de estabelecer estratégias que explicam quanto ao modo de fazer arquitetura hoje em dia está distante da forma da Destilaria existente.

© Jesús Granada

Uma oposição que se manifesta em primeiro lugar, de uma forma muito visível, é a escolha dos matérias que, com vocação de certa imaterialidade, constroem a ampliação – uma nova “dualidade”, nas palavras dos autores. E, todavia, esta visibilidade imediata da estratégia material do projeto corre perico de mascarar aqueles outros gestos críticos que a nosso entender são mais valiosos e menos visíveis, como a estratégia “vegetal” da geometria, ou a construção ao mesmo tempo de cheios e vazios, que transforma radicalmente o modo de produzir a arquitetura.

© Jesús Granada

Deste modo, frente a uma geometria de construção baseada na definição de uma baía que será dividida, uma baía sensivelmente paralela que supõe a existência de uma ordem exterior ou estabelecida – um pensamento prévio que se impõe sobre o lugar, diríamos – a ampliação vai adotar uma geometria muito mais viva. Uma geometria que cresce como os vegetais, sem simetrias, sem uma ordem prévia, atenta à busca de um lugar frente ao sol e a umidade, ou a distância deles, assim como faria uma castanha, uma destas do pintor Godofredo Ortega Muñoz, que os autores tanto gostam.

Fachada

Assim, a família de formas resultante dará um passo à segunda estratégia de subversão, e aqui vemos uma forma de colonização do pátio na qual os vazios e cheios se distribuem entrelaçados, como foram pensados, ao mesmo tempo. No efeito, resta esta forma de colonização que considerava suficiente o primeiro perímetro e de forma paralela à rua, e que considerava, portanto, protagonista único da construção deixando o espaço ao redor como um espaço único, como “aquele que restou após a construção”. Pois se algo caracteriza hoje a arquitetura é que o protagonismo tem sido depositado no espaço livre, “naquele que está entre o construído”.

© Jesús Granada

Esta modificação radical do pensamento da arquitetura, que está ligada à importância da natureza, à condição “cega” dos edifícios, à mutabilidade dos interiores, à sua necessária visibilidade exterior, encontra-se no projeto Museu do Vinho uma expressão decidida mas serena. É precisamente essa geometria do “comportamento” orgânico, é dizer, orgânico sem uma forma de proceder, a que permite imaginar alguns espaços “entre os espaços”, um conjunto de lugares que se encontram com os jardins, e com a natureza, onde o conceito de transparência se expande, e no questiona sobre o sentido tradicional das palavras exterior e interior… Alguns espaços para disfrutar, ao vivo e direto.

Mansilla + Tuñón, arquitectos

Fachada

Uma estratégia, não uma forma

A música não está nas notas, mas entre elas. Claude Debussy

O projeto do Museu do Vinho de Almendralejo evoca e recria a dualidade que existe no processo elaboração do vinho. Ciência e Arte, sistema e acaso, técnica e inspiração são os opostos que constroem, de maneira misteriosa, mágica, quase milagrosa, um bom vinho.

© Jesús Granada

No nível construtivo, a reabilitação pretende recuperar o aspecto original do edifício, com rebocos tradicionais de cal, assim como carpintarias e acessos se construíram como caixas de vidro e metal inseridas na massa densa da antiga destilaria. As coberturas se substituem, dado seu estado precário e tendo em conta a normativa a aplicar com o novo uso do museu, aproveitando esta troca para construir cenários que iluminem o interior com a luz proveniente do jardim. Estas coberturas são leves, apoiadas sobre as treliças rebitadas existentes, que se restauram, com um acabado em cinc natural, e não sobressaem sobre as atuais cornijas do edifício em seu encontro com os parâmetros exteriores.

© Jesús Granada

Para a zona do Museu foi utilizado um antigo depósito. Estes, reformados, serviram como um espaço de compartimentos que alojam a coleção do museu, uma vez que, eles mesmos junto com as passarelas que também foram reformadas, serão uma memória da atividade original do edifício. Foram substituídas as grades por vidros translúcidos, que identificaram as distintas salas do percurso.

Plantas

Quando à ampliação, a grade que envolve o percurso e usos auxiliares será construída com tubos 120.40.4 de aço oxidado, que se dobram para formar paredes e tetos num gesto contínuo, útil e belo. Após este percurso, uma pele evanescente de policarbonato de diferentes qualidades devido às zonas – translúcida, transparente, coloridas – e ao interior das salas (loja de vinhos, exposições e eventos) lonas tencionadas acústicas de diferentes formas. Os pavimentos interiores serão de madeira a base industrial de carvalho, reciclado de barris, na reabilitação e o concreto tingido em massa nas peças do jardim, reforçando tanto a imagem da reforma como o calor deste espaço luminoso e imaterial. A pesquisa destas peças, onde a geometria alternativa ao espaço ortodoxo reformado se baseia nas progressões e crescimento das vinhas e dos padrões dos vinhedos, não é meramente estrutural, material ou formal.

© Jesús Granada

Nesta ideia de peças-bolhas, cachos de uva, feitas de pele e capas que envolvem a sala, a climatização consiste tanto no sombreamento das peças mediante a malha estrutural como pela adequação térmica desta pele, respirando o ar exterior ligeiramente tratado entre o policarbonato e os tecidos de PVC para controlar a temperatura das salas. Existe, além disto, um reforço de piso radiante frio-calor que permite adaptar-se às extremas situações de temperatura exterior e usos esporádicos do edifício. Isto permite reduzir ao mínimo o ar condicionado, assim como ajustar economicamente a instalação. A iluminação mediante de tubos de baixo consumo apoiados e com focos de LEDs permitem que o gasto energético seja mínimo.

© Jesús Granada

Como complemento espacial do conjunto, o pátio de manobra da antiga destilaria se transforma em jardim, disponível para exposições ao ar livre, auditório, terraço, passeio… Para seu ajardinamento foi gerado um jardim de vinhas participativo, donde pode-se observar distintas variedades, trabalhos, podas… Completando o museu com este elemento vivo, origem do vinho.

Ficha técnica:

  • Arquitetos:GAP Arquitetos
  • Ano: 2006
  • Área construída: 2300 m²
  • Endereço: Avda. Santa Marta, Almendralejo Badajoz Espanha
  • Tipo de projeto: Cultural
  • Operação projetual:Revitalização
  • Status:Construído
  • Materialidade: Vidro e Metal
  • Estrutura: Aço e Metal
  • Localização: Avda. Santa Marta, Almendralejo , Badajoz, Espanha
  • Implantação no terreno: Isolado

Equipe:

  1. Arquitetos diretores: GAP Arquitectos: Daniel Jiménez Ferrera & Beatriz Martínez Martínez & Jaime Olivera Quintanilla
  2. Aparejador Obra: Carlos Olivera
  3. Colaboradores Arquitectura: Carlos Olivera, Fernando García, Nacho Jiménez, Aurora Fernández, Juan Yruela, João Durão
  4. Engenheiros Principais: Juan Ruiz, Luis Fernández-Conejero
  5. Promotor: CONSEJERÍA DE CULTURA Y TURISMO, JUNTA DE EXTREMADURA
  6. Construtora: CONSTRUCCIONES E INSTALACIONES MORENO, S.L.

Sobre este escritório
Cita: Jorge Alves. "Reabilitação da Antiga Destilaria Extrameña / GAP Arquitectos" 13 Abr 2012. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-42940/reabilitacao-da-antiga-destilaria-extramena-gap-arquitectos> ISSN 0719-8906

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